sexta-feira, 4 de abril de 2008

Relações urbanas - parte II

Esta foto faz parte do ensaio sobre Catadores em Curitiba.
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Relações urbanas

Uma coisa divertidíssima é entrar na garagem com a sua família (no caso da minha, quase todos falamos alto), todos fazem aquele barulho gerado por algumas vozes. Depois entrar no elevador falando alto e nisso aparece um ilustre desconhecido vizinho. O silêncio é instantâneo depois de se escutar o seguinte diálogo:
- Boa noite!
- Boa noite!
Botões apertados e o indicador acima da porta do elevador parece um placar de jogo de futebol, a atenção de todos dentro de um “recinto” 2x2 se volta para aquele indicadorzinho. -1, 1, 2. Chegou ao meu andar e me limito a falar:
- Até mais!
O barulho volta quando se coloca os pés fora do elevador.
Sem mais comentários.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

A palhaça da avenida

Quem foi que falou que Curitiba é planejada? Mentira! Essa cidade foi feita para causar bolhas e hematomas! Malditas calçadas. Se você é do sexo masculino provavelmente está tentando imaginar o motivo da minha indignação. Mas se você é mulher, deve saber o quanto dói se locomover nesse lugar.
Na verdade nem uso salto. Precisei dele esses dias quando fui acompanhar uma pessoa especial a um evento. Odeio salto. Os pés não pisam firme, ficam tremendo. Uma boa parte da atenção fica voltada ao chão. Pode ser que eu seja uma "zero à esquerda" como “lady”, mas também tenho direito de utilizar este artifício da beleza feminina de vez em quando.
Mas andam dizendo que salto faz mal, neh? Então, ao invés de sugerir que todas as calçadas de Curitiba sejam refeitas talvez as mulheres entendam que não vale a pena comprometer suas pernas, coluna, entre outros, por beleza. Digo comprometer pernas e coluna porque justamente nesses lugares estão presentes alguns hematomas. Sim, eu caí. E não foi uma derrapada com amortecimento lombar. Me senti como uma jaca podre caindo do pé (Nossa! Isso é perigoso!).
Obviamente, a culpa não foi minha. Um ser muito maligno deve ter retirado durante a noite algumas pedrinhas dessas que montam as calçadas. Eu estava caminhando até o ponto onde iria encontrar a tal pessoa especial. Sempre ando por aquelas ruas. Ficam perto do meu trabalho. Mas minha falta de atenção permitiu que não reparasse nas benditas pedrinhas faltantes. Foi duro, frio e molhado. Curitiba = garoa. Que vergonha.
A sensação do cair e ter que se levantar sozinha é muito constrangedora. Por bem ou mal não havia nenhum pedestre passando por ali. Apenas um longo congestionamento. Acho que distraí os pobres motoristas no horário de pico. A palhaça da avenida. Que as pedras faltantes vão para o inferno. E VIVA O TÊNIS!

sexta-feira, 21 de março de 2008

O que é SVC?

Você gosta de ficar na frente do computador durante horas? Tome cuidado! Você pode desenvolver a SVC.
Reportagem: Rafael Marchand / Imagens: Victor Paulino / Produção: Rikardo Santana

quarta-feira, 5 de março de 2008

Analogia

Graciele Muraro
“A Ilha” teve sua primeira edição publicada em 1976. Nasceu pela curiosidade do jornalista Fernando Morais, em observar um país em construção. “A Ilha” é uma verdadeira aula sobre a história de Cuba. Morais permaneceu no país de Fidel Castro durante três meses. Neste período escreveu o livro-reportagem, que é considerado por muitos um diário de bordo do autor, além de ter se tornado um best-seller.
Os 11 capítulos tratam dos diversos aspectos do país como saúde, educação, reforma agrária, cultura, cotidiano, a revolução. Além deles ainda compõem a obra o prefácio, que na 30º edição apresenta a Cuba revisitada. Em 2005 o autor esteve novamente no país com a missão de rever a Cuba depois do fim da União Soviética. E os Apêndices, que trazem entrevistas com o ditador Fidel Castro, e outras duas figuras que estiveram presentes na Sierra Maestra.
No mesmo ano da publicação do livro, Chico Buarque de Holanda lançava a carta musicada intitulada “Meu Caro Amigo”. A música foi composta pelo próprio Chico e por Francis Hime. A letra é uma crítica a censura vivida no Brasil enquanto o país vivia ameaçado pelo Regime Militar. A canção foi uma homenagem ao amigo de Chico Augusto Boal, exilado em Lisboa.
A música manda notícias sobre esta terra, onde “tão jogando futebol / tem muito samba, muito choro e rock’n’roll / uns dias chove, noutros dias bate sol / mas o que eu quero lhe dizer que a coisa aqui ta preta”. A indignação diante do regime está claro nos versos de Chico. “É pirueta pra cavar o ganha-pão”, “Ninguém segura esse rojão”, “Muita careta pra engolir a transação”, “E a gente ta engolindo cada sapo no caminho”.
Tanto lá (Cuba), como cá (Brasil), a década de 1970 foi conturbada. A diferença foi o resultado deste período. Enquanto Cuba vive em regime socialista, onde a política é encarada com seriedade, todos têm tratamento médico de boa qualidade sem custos e os índices de analfabetismo chegam a 2%, o Brasil continua tropeçando nas próprias pernas assim como há 36 anos. As filas do SUS ganham adeptos a cada dia, a educação pública submete os alunos a uma farsa e a política, esta sim, não pode ser comparada aos teatros circenses, pois os palhaços, mesmo representando, seriam mais capazes de comandar este grande circo que é o nosso país.
Após a segunda visita a Cuba em 2001, Fernando Morais trouxe um novo olhar não muito otimista. Segundo ele, as pessoas que nasceram nos últimos anos não sabem o que é fome, desemprego, custos de tratamento médico. “Senti que o que eles querem agora é respirar”. Apesar de lá as coisas estarem em seus devidos lugares, bem diferente daqui, Morais conclui que “onde não há liberdade, não há esperança”.
O duro é quando há liberdade, mas também não há esperança, não é “Meu Caro Amigo”? “A Marieta manda um beijo para os seus. Um beijo na família, na Cecília e nas crianças. O Francis aproveita pra também mandar lembranças. A todo pessoal, Adeus”.

* MORAIS, Fernando. “A Ilha: Um repórter brasileiro no país de Fidel Castro). São Paulo: Alfa-Omega, 1976. 176 p.
* ”Meu Caro Amigo”. Interpretação Chico Buarque. Composição Chico Buarque e Francis Hime. 1976.