quarta-feira, 5 de março de 2008

Analogia

Graciele Muraro
“A Ilha” teve sua primeira edição publicada em 1976. Nasceu pela curiosidade do jornalista Fernando Morais, em observar um país em construção. “A Ilha” é uma verdadeira aula sobre a história de Cuba. Morais permaneceu no país de Fidel Castro durante três meses. Neste período escreveu o livro-reportagem, que é considerado por muitos um diário de bordo do autor, além de ter se tornado um best-seller.
Os 11 capítulos tratam dos diversos aspectos do país como saúde, educação, reforma agrária, cultura, cotidiano, a revolução. Além deles ainda compõem a obra o prefácio, que na 30º edição apresenta a Cuba revisitada. Em 2005 o autor esteve novamente no país com a missão de rever a Cuba depois do fim da União Soviética. E os Apêndices, que trazem entrevistas com o ditador Fidel Castro, e outras duas figuras que estiveram presentes na Sierra Maestra.
No mesmo ano da publicação do livro, Chico Buarque de Holanda lançava a carta musicada intitulada “Meu Caro Amigo”. A música foi composta pelo próprio Chico e por Francis Hime. A letra é uma crítica a censura vivida no Brasil enquanto o país vivia ameaçado pelo Regime Militar. A canção foi uma homenagem ao amigo de Chico Augusto Boal, exilado em Lisboa.
A música manda notícias sobre esta terra, onde “tão jogando futebol / tem muito samba, muito choro e rock’n’roll / uns dias chove, noutros dias bate sol / mas o que eu quero lhe dizer que a coisa aqui ta preta”. A indignação diante do regime está claro nos versos de Chico. “É pirueta pra cavar o ganha-pão”, “Ninguém segura esse rojão”, “Muita careta pra engolir a transação”, “E a gente ta engolindo cada sapo no caminho”.
Tanto lá (Cuba), como cá (Brasil), a década de 1970 foi conturbada. A diferença foi o resultado deste período. Enquanto Cuba vive em regime socialista, onde a política é encarada com seriedade, todos têm tratamento médico de boa qualidade sem custos e os índices de analfabetismo chegam a 2%, o Brasil continua tropeçando nas próprias pernas assim como há 36 anos. As filas do SUS ganham adeptos a cada dia, a educação pública submete os alunos a uma farsa e a política, esta sim, não pode ser comparada aos teatros circenses, pois os palhaços, mesmo representando, seriam mais capazes de comandar este grande circo que é o nosso país.
Após a segunda visita a Cuba em 2001, Fernando Morais trouxe um novo olhar não muito otimista. Segundo ele, as pessoas que nasceram nos últimos anos não sabem o que é fome, desemprego, custos de tratamento médico. “Senti que o que eles querem agora é respirar”. Apesar de lá as coisas estarem em seus devidos lugares, bem diferente daqui, Morais conclui que “onde não há liberdade, não há esperança”.
O duro é quando há liberdade, mas também não há esperança, não é “Meu Caro Amigo”? “A Marieta manda um beijo para os seus. Um beijo na família, na Cecília e nas crianças. O Francis aproveita pra também mandar lembranças. A todo pessoal, Adeus”.

* MORAIS, Fernando. “A Ilha: Um repórter brasileiro no país de Fidel Castro). São Paulo: Alfa-Omega, 1976. 176 p.
* ”Meu Caro Amigo”. Interpretação Chico Buarque. Composição Chico Buarque e Francis Hime. 1976.

2 comentários:

Unknown disse...

Ah Garota! Bela referência hein. Chico Buarque, gostei de ver/ler.

Beijo


Ps: Quando eu crescer quero escrever assim.

Guylherme Custódio disse...

Muito boa comparação!!!!

Parabéns!