terça-feira, 30 de outubro de 2007

Será o final das locadoras?

Internet e pirataria estão reduzindo o faturamento na locação de DVDs
Victor Paulino e Rikardo Santana
Sábado, início de tarde, nossa procura por um camelô vendendo DVDs piratas começa na Praça Rui Barbosa. Depois de um tempo de espera por um camelô decidimos andar pelas praças e ruas do centro da cidade à procura de algum. Praça Osório, Rua XV de Novembro, Estação Central dos Correios, Rua Marechal Deodoro, Praça Carlos Gomes, Praça Zacarias, Rua Marechal Deodoro e voltamos ao marco zero. Lá encontramos um camelô, que não estava nem um pouco disposto a falar. Um dia difícil? Talvez, pois segundo o presidente do Sindicato das Locadoras de Vídeo do Paraná (Sindivídeo), Fanuel Olivetti, só no ano passado o número de locações em Curitiba caiu 40%. “A pirataria já venceu, grande parte das locadoras de Curitiba estão quebrando”, constata Olivetti.
Realmente aquele sábado não era dos melhores para se comprar um DVD pirata. Segundo Olivetti, alguns camelôs em um dia normal conseguem vender 200 unidades, lucrando R$2 por cada. No dia de bom movimento, os camelôs conseguem vender 300 DVDs e lucrar R$3 por cada mídia vendida.
Decidimos então ir até uma locadora e perguntar ao responsável se isso era mesmo verdade. “No último ano o faturamento caiu pelo menos 30%, isso representa de 60 a 100 DVDs por mês”. É o que diz Margarete Gonçalves, gerente de uma locadora do centro da cidade.
O hábito de comprar DVDs piratas não é recente no país e está ficando cada vez mais popular. Os cofres tupiniquins perdem R$30 bilhões ao ano com a pirataria segundo pesquisa do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Unafisco). Boa parte deste prejuízo vem do faturamento de cada camelô que vende qualquer produto pirata. Não é o objetivo desta reportagem defender ou atacar os camelôs, pois sabemos que é deste modo que muitos ganham o pão de cada dia, mas como não queremos discutir política vamos continuar com a reportagem.
Se as locadoras perdem muito, imagine as produtoras. Pensando nisto muitas delas inventaram soluções criativas para o problema. A Sony Pictures Enterteinement lançou filmes como “Homem-Aranha” e “X-men 3” simultaneamente no mundo inteiro para evitar a pirataria. Esta prática vai ser repetida no terceiro filme da série aracnídea. Mas a atitude mais polêmica foi a da Walt Disney Company que chegou a criar o DVD descartável, que, para desespero dos ambientalistas, gera muito mais poluição, já que o produto dura apenas dois dias fora da embalagem.
R.S. é comprador de DVDs piratas que não quis se identificar. Assim como ele, todos os que compram a mídia pirata não têm do que reclamar da qualidade do filme. “Não vejo nenhuma desvantagem de comprar um DVD pirata. Compro porque é mais barato”, confirma ele. O preço realmente é o grande atrativo do produto pirata. A média de custo de uma locação de lançamento é de R$4, se o consumidor for comprar na loja vai pagar R$40, já no camelô o preço varia entre R$5 e R$10.
Pra quem não quer cometer um crime - sim porque comprar um DVD pirata é crime – a opção é baixar um filme da internet, já que esta atividade ainda não é tipificada como criminosa. Algumas produtoras até incentivam que se baixem seus programas da internet. Um exemplo é a rede de televisão norte-americana ABC, que oferece a série “Lost” em seu site na internet. Mas este exemplo é apenas uma exceção, as outras produtoras tentam, em vão, acabar com isso. Em vão, porque a internet é, de certo modo, um território “livre” em que é quase impossível identificar quem promove o livre acesso ao entretenimento.
M.T., que também não quis se identificar é uma dessas pessoas que baixam filmes da internet. Entrar no site, achar o arquivo, clicar e esperar são as únicas coisas que uma pessoa que baixa filmes tem que fazer e M.T. faz isso de uma a duas vezes por semana. ”Eu encontro filmes de boa qualidade, a grande maioria tem boa qualidade. Essa conversa de que filme que tem na internet tem baixa qualidade é mentira”, afirma ele.
Então vamos voltar aos donos de locadoras para perguntar sobre o efeito da internet na queda de faturamento de suas lojas. Margarete, aquela gerente do começo da reportagem, diz que o advento da internet ajudou a empurrar para baixo o faturamento: “Quem compra o produto pirata ou baixa da internet não quer saber da qualidade, quer saber do filme”. Neivo Zanini, dono de uma rede de locadoras de Curitiba, afirma que a febre das videolocadoras já passou e que agora a tendência é piorar. “Esse negócio de dizer que o mercado está em expansão é tudo mentira, é só para vender franquia. O retorno em um investimento desses demora, em média, de três a quatro anos”, esbraveja Zanini. Com a chegada do DVD as locadoras faturaram demais. Mas como há males que vêm para o bem, há bens que vêm para o mal, é o caso do DVD que primeiro salvou o setor e depois o arruinou. “Desde 97 e 98 quando apareceram os primeiros DVDs, 2005 foi o melhor ano. Se tiver um faturamento igual ao de 2006 estarei feliz”, lembra Zanini , acrescentando que no último ano houve uma queda de 10% na sua rede, acompanhando a média nacional.
Ao contrário do hábito de ir às locadoras, o de ir ao cinema está longe de acabar. Tanto que quem baixa filmes ou compra pirata não deixa de ir ao cinema. Um exemplo é M.T.: “Não é porque baixo filmes da internet que deixo de ir ao cinema, inclusive fui ver ‘Motoqueiro fantasma’ no fim de semana da estréia”.
Naquele fatídico sábado, logo após a pequena maratona de achar um camelô, encontramos muitos em várias galerias com vários produtos piratas à venda. Entre eles estavam jogos, brinquedos, CDs, DVDs de shows musicais etc, mais filme que (para nossa reportagem) era bom, pouquíssimos. Ou seja, deveríamos ter baixado da internet.

Nenhum comentário: